terça-feira, 28 de junho de 2016

Noites que choram

Quando adormeço...meus olhos choram
no tormento de uma criança assustada
cheia de medo...minhas lágrimas molham
o peito de uma menina mal amada.

O meu destino sempre foi a punição
um remoinho de uma maré alvoraçada
que ao nascer arrancaram o coração
e lá ficou um vazio... cheio de nada.

O eco bate agora bem forte
nas paredes de um buraco negro
induzindo as minhas têmporas para a morte
no sangue em ebulição... meu corpo fervo.

Nem um grito esvoaça da minha alma
de mulher vazia e oca por dentro
pois a dor que dói...a mim me acalma
devagarinho...momento a momento.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte








domingo, 26 de junho de 2016

Tristemente

Tristemente o meu corpo se contrai
quando sobre mim caem gotas de orvalho
e este agradece pela frescura que se espalha
fechando as fissuras do deserto da minha pele.
A sede que eu sentia era um latejar
de um furúnculo que nascia no canto da boca
pela ausência de um beijo.
Mendigando pelos cantos da solidão
o meu voraz apetite dilacerou as faces...
pálidas do meu estômago.
Contorcida de dores...esperneio no meu canto imundo
gritando por uma alma que me acuda
e me dê um prato de amor e compaixão.
Abro a minha boca....a qualquer pingo doce...
ao mais pequeno abraço apertado...
e que me despedacem o coração de tanto constrangimento.
Tristemente a minha fome não finda
sofrendo de sucessivas recaídas
pernoito no lumiar da pobreza
em que o meu corpo grita por mais
e mais...e mais amor.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte




  


sexta-feira, 17 de junho de 2016

De tão especial

Foi na tua súbita ausência,
que senti a dor do amargo vazio,
da tua mão em permanência,
no meu corpo quente e às vezes frio.
Cobriste o meu olhar choroso,
com o manto da felicidade,
em noites de tempo invernoso,
fugia da realidade.
Doei a minha frágil meninice,
perante os lindos lírios do campo,,
em constante melodia e meiguice,
soei-te ao ouvido.., te amo tanto! tanto.
Quisera eu voltar atrás,
não mudava nada, nada!
perante os lírios, tanto faz!
eu só queria era ser amada.
À luz da noite ou do dia,
com o gemer de uma cotovia,
tocava os céus com as mãos
e Deus, as minhas preces ouvia.
Soubesse eu a falta que me fazes,
nunca desejaria a solidão,
a saudade que em mim trazes,
são mil lágrimas esbatidas no chão.
Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

terça-feira, 14 de junho de 2016

Reflexão

A dor é mestre da vida,
a escola da nossa alma,
o lamento não tem saída,
o conhecimento estagna.
Ergue-te na posição eréctil,
como a espada de um imperador,
não te tornes como um réptil,
não precisas de ser doutor.
Aguenta-te e não reclames,
não queiras tudo de mão beijada,
teus gemidos são arames,
que deixam uma estrada cortada.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte





sábado, 11 de junho de 2016

Mil olhos diferentes

São mil olhos diferentes
azuis, castanhos e pretos
incolores e até cinzentos.
São olhos que gritam
apertados na multidão
cabeças de gado, ermitas
que lutam por uma codea de pão.
Providos de uma alma poetica
o sangue corre como lava
nem mesmo a rima simétrica
o ronco do estômago acaba.
Todos diferentes, todos iguais
são crianças descontentes
com presentes artificiais.
O sangue é lágrima que corre
sobre um corpo enfraquecido
eles são tudo, eles são nada
eles são um povo destemido.
Entupidos na multidão
afogados nas incertezas
de uma mina de carvão
inspiram as tristezas.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte



sexta-feira, 10 de junho de 2016

O que resta de mim!!!!

Permaneceu o meu sonho inquieto,
com a chegada do Outono,
os frutos foram o meu tecto,
esses!! eu nunca abandono.
O que resta de mim é pouco,
sorveram toda a minha polpa,
sou um pau seco e oco,
secou toda a minha boca..
O que me cobre é pesadelo,
olhares delinquentes,
passou por mim um flagelo,
nua, exposta aos ventos.
Procuro cobrir os meus seios,
que mirram com a friagem,
soluciono com escassos meios,
escondendo-me da paisagem.
Um pássaro tentou poisar,
em meu ombro descarnado,
ouviu o meu gritar,
com o peso do coitado.
Nem uma sombra provoco,
com o meu triste esqueleto,
nem em mim, eu própria toco,
com a tristeza que meto.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte




quarta-feira, 8 de junho de 2016

Noites de Lisboa

Noites de Lisboa
A noite veste um lindo vestido
cheio de luzes psicadélicas
espalha a cor em tom sofrido
a sua alma esquizofrênica.
Apanha o barco para a margem sul
o Tejo cobre toda a planície
a maré enche de água azul
o cheiro a Lisboa fica à superfície.
Bêbeda com as suas tristezas
espreita as pernas nocturnas
solta piropos à sua beleza
é o seu álcool, suas prosas difusas.
Ainda a noite é pequenina
franzina, a cheirar a leite
Lisboa é concertina
sardinha com muito azeite.
Amante da vida nocturna
a noite não pede descanso
retorna à vida diurna
espanta o galo, esvoaça o ganso.
Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

domingo, 5 de junho de 2016

Sol da minha vida

Oh! Sol da minha vida...
minha areia, meu búzio, minha praia
eu calço teu chinelo, eu te abuso
coloco o teu chapéu de cambraia.

Desliza comigo no calçadão
bronzeia a minha pele
biquíni azul de algodão
pestana longa com rímel.

Chama-me de amor, de picolé
que eu derreto, lambo seu pé
amostra-me o teu universo
deixa-me perplexo.

Teu brilho é cor de pêssego
és fornalha da minha sede
sombreiro feito de rede.

Cheiro gostoso a papaia
meu sol, meu amor louco
meu suor, minha água de côco
meu chuchu de mini saia.

Pára-vento, minha maresia
gaivota do meu mar
toalha que fantasia
gota do meu chorar.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Dias insípidos

Um nevoeiro cálido e insípido,
sentou-se no regaço da aurora,
vergando as frágeis hastes,
sobre um "hermoso" pantanal.
Sofrendo com tamanha envergadura,
o dia finda cansado e desesperado,
por se estender no manto breu da noite.
Latejam os seus pés simplórios,
e mergulha-os na gélida e estagnada água.
Sussurra ao ouvido de um pássaro ferido
se o cansaço também o atingiu.
Os dois míseros crucificados pelo caçimbo,
partilham as dores da cruz que suportam.
A aurora reza que o dia finde
e que abra as janelas para o glorioso sol.
Aninha-se num canto seco
e pernoita toda esperançosa.
Adormece sonhando com a reviravolta do tempo
e sonâmbula mergulha naquilo que julga ser um oceano.
Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Minha Maria de Jerusalém

Toda a vida por ti sofri,
tens os olhos que eu sonhei,
só agora compreendi,
porque por ti chorei.
¨¨¨¨
És a tal, a minha vida,
o motivo do meu sofrer,
uma lágrima caída,
o meu sobreviver.
¨¨¨¨
Não chores arrependida,
tive-te e adorei,
foste o amor da minha vida,
a riqueza que eu herdei.
¨¨¨¨
Deste-me amor profundo,
muita alegria também,
fui contigo ao fim do mundo,
minha Maria de Jerusalém.
¨¨¨¨
Não te esqueças de mim,
minha querida, minha princesa,
eu gosto de ti assim,
eu amo a tua pobreza.
¨¨¨¨
Cristina Maria Afonso Ivens Duarte