segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Chorei pelos outros mortos

Parti, a minha alma estava enterrada, sufocada,
levitei e resolvi ir cheirar todas as flores que geralmente
um cemitério tem.
Sem corpo, o meu coração voltou a bater fortemente,
um ataque cardíaco estava eminente. A visão que tive
foi tão arrepiante, pois não havia flores para cheirar.
Apenas as minhas se mantinham frescas, eu tinha
acabado de chegar.Foram todos esquecidos,
eram apenas um monte de ossos prontos a serem triturados.
Chorei por todos eles e jurei que iria me vingar.
Saí daquele cemitério fantasma e tornei-me num
demónio.Assombrei, torturei e endoideci todos
os que se esqueceram dos meus companheiros de campa.
A vida deles nunca mais foi a mesma, tinham pesadelos
de arrepiar os cabelos, ouviam zumbidos, vozes que lhes
atormentavam o juízo, olheiras salientes, rangiam os dentes
andavam como zumbis, eram almas penadas.
Porque só no Dia de Finados, os vivos mandam
recados e fazem promessas de amor.

Cristina Ivens Duarte






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