quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O amor é uma constante da vida

Choro facilmente por natureza
sinto tristeza viver sem emoções
a vida não tem que ser cinzenta
se for pintada por dois corações.

Ainda sou do antigamente
quando a aliança era diamante
dormia com ela eternamente
sentia-me nua com ela distante.

O amor é por natureza
a nossa cama, a nossa mesa
fica a casa em escuridão
fica a vida uma tristeza.

A falta de ar é constante
quando o amor é ausente
não é camada de ozono
é solidão simplesmente.

Bate forte, fortemente
sou um poço de emoções
sinto a falta do antigamente
que altera as sensações .

Cristina Ivens Duarte

















quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Um filho imaginado

Amas-me como se  tivesse vida
abraças-me como um filho
levas-me sempre contigo
sou o teu porto de abrigo.

Sinto o teu corpo macio
o teu cheiro a pó de talco
sinto na pele um vazio
se me esqueces no teu quarto.

Sou um peluche apenas
fazes de mim um bebé
durmo contigo a teu lado
ficas feliz, é ou não é?

Guarda-me eternamente
mesmo roto e esfarrapado
lembra-te que já fui teu
um filho imaginado.

Cristina Ivens Duarte


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Sem papas na língua

Eu sou assim, sem papas na língua
ou sim, ou sopas, não sou de bocas
pão pão, queijo queijo, se não gostas
põe à beira do prato, logo à noite
faço um festejo e com as sobras
um bacalhau à moda "Do Crato".
Comigo ninguém grita e se gritar
como sou pequena, em bicos
de pés me transformo numa hiena.
Faz o que eu digo, não faças o que
eu faço, porque se me irritas, o sangue
sobe-me à cabeça e em ti me desfaço.
Perco as estribeiras quando me tiram a razão
com a mentira, faço uma revolução
com a teimosia, chamo-lhe nomes
tão feios que ofendo a sua tia.
Prefiro perder uma amizade
do que a oportunidade de ficar calada.

Cristina Ivens Duarte







segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Um amor diferente

Suspirei de amor e refresquei a alma
até ao dia em que fui Mãe
agora é fogo, é dor que arde
por um amor que só eu sei.

Um menino encantador
ocupou o seu lugar
repousei do outro amor
porque este me faz sonhar.

É sangue do meu sangue
é carne da minha carne
ainda o sinto no ventre
e o meu útero ainda arde.

Romeu e Julieta
foi história, foi brilho
agora mudei de letra
é poesia para o meu filho.

O antigo amor permanece
só está em banho maria
é um amor que não arrefece
mas primeiro está minha cria.

Cristina Ivens Duarte

domingo, 27 de dezembro de 2015

Vesti a pele de sentimentos

Vesti a pele de sentimentos
e despertei os meus sentidos
deambulei a noite inteira
a ouvir os meus gemidos.

Acordei junto ao rio
todo coberto de nevoeiro
foi ele que me invadiu
e beijou-me o corpo inteiro.

A lua estava presente
viu-me nua e amada
com ciume ela sumiu
o nevoeiro da alvorada.

Era noite de lua cheia
ela uivava como louca
tornei-a em meia lua
com um beijo na boca.

Veio o sol que a levou
e a tornou minguante
porque um dia me senti só
e tive a lua como amante.

Cristina Ivens Duarte

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Quando a lua me chamou de irmão


Moribundo e perdido nas ruas
me deito e cubro com as mãos
no chão que me acolhe com ternura

chega a lua e me chama de irmão.

Meu irmão encosta-te a mim
que a fogueira aquece um condado
não sei se te lembras de mim
vivias na rua e embriagado.

Aproxima as mãos das braseiras
e colhe o pão do meu regaço
sente o cheiro da fogueira
dá-lhe um beijo e um abraço.

Enche a barriga de quentura
porque a noite já lá vai
ficas tu mais a lua
porque a rua não tem Pai.

Vem ter comigo sempre de noite
porque a tua lua não dorme
tenho irmãos nos bancos das ruas
à chuva e cheios de fome.

Cristina Ivens Duarte





sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A minha mente estava doente

Desenhei a minha mente
num momento de loucura
quando ainda estava quente
percebeu a minha fúria.

Encolheu-se de medo
mas deixou-me aliviar
disse baixinho em segredo
estás doente, vai-te tratar.

Não lhe dei ouvidos, fiz uns
rabiscos sem conexão
senti-me tonta e desmaiei
deixei cair a mente no chão.

Levantei-a ainda quente
e mergulhei-a em água fresca
agarrou-me pelos cabelos
e chamou-me de grande besta.

Aquele nome ficou-me gravado
entretanto resolvi tratar-me
mediquei-me de uma só vez
e brindei à felicidade.

Cristina Ivens Duarte







quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O meu cúpido

A juventude passou por mim
nem contei os meus amores
e o meu nome ficou assim
chamavam-me Maria Das Dores.

Mas Maria não era o meu nome
de dores eu padecia bastante
o amor que eu queria para mim
vivia num lugar bem distante.

Os anos foram passando
à espera de ser conquistada
surgiu um gaiato vestido de preto
e perguntou-me se eu era casada.

Incomodada perguntei-lhe
se ele vinha de algum funeral
ele sorriu mas, infeliz desabafou
que a vida lhe tinha corrido mal.

Contou-me que era viúvo
e que sofria de solidão
tirou a aliança do bolso
e colocou-a na minha mão.

O nosso olhar se cruzou
até que o cupido me atingiu
o lindo viúvo me abraçou
e o meu peito bateu e sentiu.

Cristina Ivens Duarte



















Contigo é sempre verão

Conheço o teu corpo de lés a lés
beijo-te a alma da cabeça aos pés
és sereia na praia com sabor a sal
o teu bronze dá-te um toque sensual.

Queria acordar contigo à beira mar
desenhar o teu corpo na areia branca
os búzios seriam jóias, as algas, a tua manta.

E nas ondas do mar faria
uma linda história de amor
com os teus belos cabelos ao vento
me perdia no pensamento.

Contigo é sempre verão
és praia o ano inteiro
nunca muda a estação.


Cristina Ivens Duarte

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Não é a casa que nos acolhe

Não é a casa que nos acolhe
é a ternura que nela paira
o fogão aceso em lume brando
o cheirinho a feijão branco
da panela de sopa a borbulhar.
É a campainha que toca
é o carteiro, o som do chuveiro
a musica a tocar e o telefone
a vibrar de mensagens de amor.
Não é a casa que nos acolhe
são os abraços, os sorrisos
o embaciar dos vidros, a lareira
acesa e o pão quentinho na mesa.
O que nos acolhe, é a sopinha
a açorda de coentros, o cheirinho
da cozinha com perfume a sentimentos.
É comer o arroz doce da panela
ainda morno e depenicar as
as partes tostadas.
Ouvir o estalar de cada trincadela
e preencher o coração de aroma
a canela.

Cristina Ivens Duarte







segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Chorei pelos outros mortos

Parti, a minha alma estava enterrada, sufocada,
levitei e resolvi ir cheirar todas as flores que geralmente
um cemitério tem.
Sem corpo, o meu coração voltou a bater fortemente,
um ataque cardíaco estava eminente. A visão que tive
foi tão arrepiante, pois não havia flores para cheirar.
Apenas as minhas se mantinham frescas, eu tinha
acabado de chegar.Foram todos esquecidos,
eram apenas um monte de ossos prontos a serem triturados.
Chorei por todos eles e jurei que iria me vingar.
Saí daquele cemitério fantasma e tornei-me num
demónio.Assombrei, torturei e endoideci todos
os que se esqueceram dos meus companheiros de campa.
A vida deles nunca mais foi a mesma, tinham pesadelos
de arrepiar os cabelos, ouviam zumbidos, vozes que lhes
atormentavam o juízo, olheiras salientes, rangiam os dentes
andavam como zumbis, eram almas penadas.
Porque só no Dia de Finados, os vivos mandam
recados e fazem promessas de amor.

Cristina Ivens Duarte






sábado, 5 de dezembro de 2015

Quinze anos de rega

















Quinze anos de rega, de poda, o nosso amor ainda sobrevive.
Foi difícil acertar nos sulfatos, nos pesticidas, matar as formigas,
os gafanhotos, não deixar criar borbotos, manter o substrato,
tornar intacto, o nosso amor.
Muitas ervas daninhas eram nossas vizinhas, cortamos relações,
comiam-nos os pulmões, o estrume que era difícil de cheirar,
tivemos que nos acostumar, conservar as raízes, fazê-las felizes.
O pior foram as tempestades que nos faziam maldades e nos afundavam
em palavrões, fulminava-nos com trovões que nos deixavam tão feridos
sem nos falarmos oito dias seguidos.
Mas o nosso amor era tão grande que as raízes choravam e nos alertavam
que estavam apodrecer.
Assim que a tempestade passava e o sol raiava, punha-mos o amor a secar
embrulhava-mo-nos num cobertor, fazia-mos amor.
Quinze anos depois aprendemos a controlar tempestades, com para-raios,
para-ventos, continuamos sedentos.






sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Liberta o amor

Ama muito, grita bem alto, faz soltar o asfalto, és vulcão.
Explode, alivia a pressão, deixa sair a lava que te queima as mãos,
solta fumos e fagulhas, abre crateras, rompe as costuras
espalha as cinzas, incendeia as bocas que não sabem beijar.
Sai do inferno, arde, arde de sentimento, bombardeia tudo,
a terra, o cimento.
Queima, faz ferver, grita de prazer, ateia, faz lume,
espalha o teu perfume, encosta o teu ombro e chora,
rebenta, o sentimento não tem hora.

Cristina Ivens Duarte

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Proibir algo é despertar o desejo.

Proibir algo é fechar um coração, andar em contra-mão
é não saber o código da estrada, atropelar o conhecimento
encarcerar, destruir o paladar de cada momento.
Proibir algo é não poder sair à noite, só de dia
é dizer ao pensamento que a escuridão não é boa companhia.
Proibir algo, é não poder maquilhar porque se está a exibir
a provocar, que não se sabe comportar.
Proibir algo é não poder ter cabelo comprido, bem arranjado
saias curtas, corpo bem torneado.
É punição sem crime, austeridade, é cerrar a boca e não
poder  beber o sumo da fruta com o nome de Vida.
Proibir algo é despertar o desejo, acordá-lo, torná-lo maior
é atirar de cabeça sem querer saber o que aconteça.
Depois de acordado, o desejo fica revoltado, esfaqueia
o proibir por o ter encarcerado.
Naquele sangue derramado, fica o desejo aliviado
de poder estar bem com a Vida e ter o sumo aproveitado.


Cristina Ivens Duarte