quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Florbela

Acalma-te amor, não chores
a missão de te fazer feliz é minha.
És a minha querida, a minha vida
quem chora por ti sou eu.
Eu canto para ti no meu colo
embalo e choro.
Encosta-te a mim que eu soluço
soluço, por ti.
Expulso os amargos de boca
que te deixam rouca, cansada.
Descansa que eu faço tudo
por ti, te meto na cama
vais-te sentir feliz.
Acalma-te amor, eu estou aqui
consolo, te adoro
adormece por um segundo
em paz, não demoro.
Vou só ali à janela
a rosa chamou por mim
fez um perfume com o teu nome
"Florbela".

Cristina Ivens Duarte



terça-feira, 24 de novembro de 2015

Voar não está na asa

Voar não está na asa
está na mente
sentir que de repente
estou noutro lugar.
É imaginar que
sou indiferente
que estou ausente
bem perto do luar.
Voar é levitar nas palavras
e deixá-las formar poesia
é perder-me no tempo
com sinfonias.
Sinfonias com sonhos
por realizar, fronteiras abertas
para poder esvoaçar.
Esvoaçar e atirar-me
de um precipício
sem perder o juízo.
Voar não está na asa
está na causa, na causa
que provoca o desejo
o desejo de planar.

Cristina Ivens Duarte



domingo, 22 de novembro de 2015

Outro lugar

Queria mudar, viajar
virar de página
procurar outro lugar.
Ser desconhecida
ter outra vida
numa corrida
com a velocidade
de um comboio
aonde as árvores
correm comigo
e deixam tudo para trás.
Levar o pensamento comigo
e viajar no tempo
no tempo em que era feliz
ser aquela mulher
que sonhava sozinha
sem ter que repartir
os meus sonhos com ninguém.
Queria partir com tempo
sem me preocupar
nem estar atenta com as horas
e levar todo tempo
só a pensar em mim.

Cristina Ivens Duarte




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Sentimento é arte

Sentimento é arte
é planeta, é Marte
é sol que arde
no reino da morte.
Sentimento é magia
transforma, contagia
é nevoeiro abstracto
que afecta o meu olfacto.
Sentimento não tem cheiro
é mealheiro cheio
de saudades e mistérios
é sofrimento dos vivos
que visitam os cemitérios.
É ponte que separa
a vida da morte
é loucura dos vivos
que sonham com a sorte.
Cristina Ivens Duarte

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Quando o amor morre

Atiras as culpas para mim
de o nosso amor ter morrido
são desculpas de um fracasso
são culpas de um coração ferido.

Se pensas que eu não penso em ti
não pensas com sentimento
atiras as culpas para mim
porque tens fraco pensamento.

Quando não souberes amar
não culpes o teu amor
ateia o lume que faz aumentar
e sustentar esse calor.

E se o amor não resultar
não há culpa, nem desculpas
vence aquele que sabe amar
morre aquele que não escuta.

Porque a culpa é dos dois
pediram desculpa já tarde
de um amor que já morreu
agora é fogo que não arde.

Cristina Ivens Duarte


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Os meus cabelos brancos

Se os meus cabelos brancos falassem
diriam-me para não os pintar
que a tinta apaga a história
e do passado não posso  falar.

São brancos os meus cabelos
têm cor de mulher vivida
foi o tempo que passou por mim
abençoada e amargurada vida.

Fui benzida com esta cor
cor do tempo que passou
a alegria ainda mora
apenas o cabelo mudou.

A vida começa agora
agora de cabelos grisalhos
vou subir todas as árvores
quebrar todos os galhos.

Os meus cabelos brancos
anseiam por um amor eterno
que os penteiem com carinho
numa linda noite de inverno.

Cristina Ivens Duarte





terça-feira, 17 de novembro de 2015

O tempo não me deu tempo

Queria voltar atrás
atrás no meu tempo
mas o tempo não foi capaz
de me fazer criança a tempo.

Queria brincar com o tempo
com as flores do seu jardim
mas o tempo ficou sem tempo
e fechou as portas para mim.

Queria sonhar com o tempo
em que eu tinha tranças coloridas
mas o tempo desfez-me os sonhos
e causou-me muitas feridas.

Agora para matar o tempo
não posso mais brincar
porque o tempo não se importou
que eu deixasse de sonhar.

Ser criança é ter tempo
tempo de crescer
se não se der tempo ao tempo
ela acaba por morrer.

Cristina Ivens Duarte



Quando as nuvens se beijaram

Eu e tu meu amor, partimos ao mesmo tempo.
A despedida não ficou esquecida, pois sabia
que o céu se encarregava de mostrar ao mundo
que os mortos podem beijar.
Atravessamos a luz para o outro lado
sem deixar recado, nem sinal de que um dia
nós os dois seriamos duas nuvens apaixonadas.
Quando já mais ninguém se lembrava de nós
eis que surgiram duas sombras no céu que o sol
empurrou e nos transformou em duas bocas
que se criam beijar.
Era eu e tu meu amor, que partimos com a dor
de não nos termos despedido.
Os nossos lábios se tocaram e formamos
uma linda  história de amor, que apenas no céu
tem outro sabor e fez lembrar aos grandes amantes
a existência de um lugar sagrado, aonde podem ser
guardados, sentimentos puros e amores perdidos.

Cristina Ivens Duarte



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A caminhada

E num dia de inverno
resolvi caminhar..
A neve caí sobre mim
como algodão doce
na boca de uma criança.
Sinto a vida mais branca
cheia de esperança
sem medo que ela
me encharque e estrague
as minhas belas tranças.
Sinto-me feliz, capaz de suportar
o peso dela, pois do chapéu
me esqueci e fui encará-la
frente a frente, com uma calma
de quem tem a vida toda
para se secar .
É um caminho escorregadio
que a minha alma se apega
mantenho sempre o mesmo trilho
e os meus pés não escorregam.
Cada passo que dou
procuro um caminho melhor
capaz de me levar aos céus
.e encontrar um grande amor.
Caminho em busca de companhia
e suavizar a minha agonia
de ter que viver todos os dias
com o receio de que me levem
as pernas e não possa caminhar mais.

Cristina Ivens Duarte








domingo, 15 de novembro de 2015

A magia do abraço

Meu amor, quando te abraço,
acendem-se luzes que iluminam
os nossos corpos, provocando 
uma explosão de emoções.
O nosso abraço, provoca embaraço
fazemos um laço que nunca desfaço.
A nossa corrente é alternada
tu és o abraço, eu sou abraçada.
Somos dois foguetes abraçados,
que quando rebentados
libertamos amor aos bocados.
Foi assim que nos conhece-mos
no meio de um festival
dois foguetes apaixonados
que rebentaram no final.

Cristina Ivens Duarte







sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Improviso de uma criança

Nas tralhas do meu sótão
vasculhei entre o cotão
encontrei chapéus de chuva
que invadiam o seu chão.

Sou criança, nunca vi o mar
dos chapéus criei uma imagem
que há muito eu queria brincar.

Sim, era com o mar
sentir as ondas e baloiçar.

Abri todos os chapéus
formei ondas que só eu podia ver
o mar já estava pronto
do barco não podia esquecer.

Não desesperei, alguns chapéus virei
criei um pequeno bote
que me fez sentir criança
feliz, cheia de sorte.

Quando um dia me perguntarem
se o meu mar tem gaivotas no céu
vou dizer que tenho um só meu
construído com chapéus.
Cristina Ivens Duarte

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Nua

Estou nua, apenas eu e mais ninguém.
Sem  vergonha, a natureza invade
o meu corpo, que há muito tempo
estava escondido.
Ela enche-me de predicados
que nem os namorados
sabem fazer.
Faz-me sentir mais magra
como se eu fosse uma
libélula a poisar nas suas mãos.
Nua, fazia amor
com ela
sem preconceito
do meu corpo.
Quando estou triste
dispo-me sem pudor
sou aguarela numa tela
que o sol se encarrega
de fazer brilhar.
Nua, sinto-me crua
a natureza perfuma-me
a pele com flores
que me dão um cheirinho
de mulher especial.

Cristina Ivens Duarte












terça-feira, 10 de novembro de 2015

Traição

Já não és meu, morreu uma flor
no teu jardim.
Agora, és erva daninha
sem cor, com pequenas espinhas
que se esqueceu de mim.
Traíste-me com outra flor
não me regas-te com amor
sequei a pensar em ti
ao sol, ao calor.
És urtiga no meu corpo
não és flor
não tens cheiro
se picas não és amor
és traidor aventureiro.
As flores que me deste
vou deixá-las morrer
enterra-las bem perto
de quem me fez sofrer.
Sim, ao pé de ti
vou chorar a minha sorte
de ter morrido num jardim
ver o meu amor por perto
que simplesmente
se esqueceu de mim.



Cristina Ivens Duarte



domingo, 8 de novembro de 2015

Oração

Pai nosso
desce do céu
que o Teu nome
é santificado
no Teu reino
preciso de ti
sinto-me crucificado.
O pão nosso de cada dia
está a faltar nas nossas mesas
desce à terra em poesia
acaba com esta pobreza.
Rogai por mim
que não sou pecador
são erros pequeninos
são falhas de amor.
És bem vindo, entre as mulheres
e as crianças
vem depressa não hesites
já não tenho esperanças.
Pai nosso todo poderoso
ilumina o meu caminho
carrego a cruz ao pescoço
contigo não estou sozinho.
Ámen.

Cristina Ivens Duarte















Sou feliz assim

Ás vezes paro e penso
será que alguém é feliz
por me ter conhecido?
Passo despercebida
sou uma ilha isolada
aonde só eu existo
sou praia
sem esplanada.
Bronzeio-me com um sol
especial, que não queima
nem me quer mal
não importa
se não pensas em mim
sou ilha, sou praia
sou mulher natural.
Delicio-me comigo
não preciso estar contigo
és insecto que devora
toda a colheita do meu trigo.
Eu, com a minha praia
tiro a  saia sem pudor
segredos partilho
com ela faço amor.
Entro e saio
as vezes que quiser
a ilha é minha
não é tua
aqui quem manda
é uma mulher.


Cristina Duarte












sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Palhaço infeliz

Sou palhaço
sorrio para fora
choro por dentro
sou um palhaço
em sofrimento.
Visto-me do avesso
roupas sem preço
de cara pintada
de aplausos me abasteço.
Sou um palhaço, não tenho
o meu espaço
apenas sou estrela
do circo não passo.
Oh, a minha vida
é um compasso
cheio de trapos.
De mala aviada
sem destino marcado
sou um palhaço infeliz
de nariz encarnado.
Holofotes apontados
são apenas luzes da "ribalta"
mascarado a toda hora
das minhas roupas sinto falta.
Triste vida a minha
a fazer palhaçadas
farto de ser palhaço
cansado das fantochadas.
A cara manchada
são tintas da minha vida
as minhas lágrimas são
aguarelas, as minhas feridas
são sequelas.

Cristina Duarte







quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Depressão

Suspiro, inspiro
dou voltas ao pensamento
queria estar noutro lugar
sem culpas ou julgamentos.
Sem eira nem beira
confusão que fulmina
a minha mente
doença para toda vida
desespera, não mente.
Sempre ás escuras
no fundo do poço
corda apertada
com nó no pescoço.
Descalça caminho
sem rumo ou destino
minhas dores apago
com drogas e vinho.
Cérebro cansado
neurónios queimados
depressão instalada
morte desejada.

Cristina Duarte









terça-feira, 3 de novembro de 2015

O caçador de luas

Saio de noite com a certeza
que não vou ficar perdida
nas ruas da minha vida.

São barulhos que metem medo
que no escuro fazem segredos
vultos de almas perdidas
não vêm luz nas suas vidas.

Uma sombra me persegue
mais parece um gigante
com uma corda puxa a lua
torna a noite mais brilhante.

É o caçador de luas
que percorre as minhas ruas
faz delas um montinho
que ilumina o meu caminho.

Companheiro da meia noite
que dela não tem medo
guarda as luas para mim
dentro delas os segredos.

Cristina Duarte



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O meu amor é mel

O meu amor é mel
que escorre no meu corpo
de mulher, é loucura de sabores
que se entranham na pele.
Com a língua, saboreio emoções
entranhadas de açúcar
faço colmeias de amor
aonde sou rainha.
O meu amor é louco
louco por mel
contagia a cama de prazer
enlouquece a minha alma
o meu corpo faz tremer.
Oh, que sabor tem o meu amor
é guloso, gostoso, tem tudo
é pegajoso.
Grito na cama por mais açúcar
chove mel na minha boca
o amor canta para mim
"Esta mulher é louca"

Cristina Duarte







domingo, 1 de novembro de 2015

Aurora

Esperava por ti mas ainda era cedo
na labuta da vida que herdei sem medo.
Vinhas sempre à mesma hora
rezavas comigo, desejavas-me sucesso
rotina diária que eu ansiava
presença divina que eu amava.
Aurora, não apareces-te!
senti que uma tempestade se aproximava
e agora, quem reza por mim?
Sem chão me senti, perdida na vida
quando o diabo surgiu com a mão estendida.
Pediu-me tudo o que era teu, sem dó nem piedade
porque quem fala assim não é Deus
é um poço de maldade.
Avó, tinhas partido sem aviso.
A correr ele foi, tirar os teus botões
que sobraram de uma vida
levada aos trambolhões.
Fechei as portas, corri ao teu alcance
queria te ver mais uma vez
sem que o diabo soube-se.
Ao pé de ti perguntei a Deus
se a tua morte foi sem querer
pois dela tinhas medo e amavas viver.
Com a certeza fiquei que agora estavas bem
estendida no teu leito.
Pus-te as mãos no peito, deixei uma flor
e beijei-te na boca como quem beija
com amor.



Cristina Duarte