segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Saudade

Cansado de estar só, com um nó no peito,
Levando a vida, sempre a esmorecer,
A sós com ela, para nunca esquecer,
Esta saudade sentida, sem proveito.
*
Oh! se este nevoeiro se acalmasse,
E o sol, com o seu calor voltasse,
E se embrulhasse, no meu viver,
Eu da saudade, conseguia esquecer.
*
Clarear as estradas da minha vida,
A lua, com a sua luminosidade,
Viveria junto com a saudade,
E não mais, seria assim tão sentida. 
*
Cristina Maria Ivens






quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Roupa velha de bacalhau

Tinha tido um longo dia,
O trabalho me assoberbou,
Fazer comer, não me apetecia,
Aproveitei o que sobrou.

Restou da noite anterior,
Na consoada do Natal,
E como era um dia de amor, 
Ninguém me levou a mal.

Bacalhau cosido com todos,
Todos, são os legumes, as batatas,
Os ovos cozidos, sem cascas.

Mas o que havia, não chegava,
Lembrei-me da minha avó Luzia,
Que tão bem se desenrascava.

Desfiei o bacalhau em lascas,
As batatas parti às rodelas,
Os legumes, e os ovos ficaram na caixa,
Para no fim, se esfregarem com elas. 

Num tacho largo de zinco,
Soquei cinco dentes de alho,
Uma malga de azeite, bem fino.

Em cima de lume brando,
Até o alho, alourar na fervura,
Coloquei as sobras, pensando,
Só no fim, coloco a verdura.

Bati seis ovos inteiros, 
Misturei com grande pujança,
Uma ervas do meu canteiro,
Estava pronto para encher a pança.

Decorei, como me deu na mona,
Uma salsinha fresca, caiu bem,
Não esquecendo da azeitona,
Do lagar da minha Mãe.

Cristina Ivens Duarte-24-11-2016




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O ato de cozinhar

Cozinhar é o mais privado e arriscado ato,
Descobrem-se relações, entre os alimentos,
O sexo mantido, entre a faca e o garfo,
Que a boca grita, com os seus movimentos.

Cozinhar, é um modo de amar os outros,
Na panela se verte, o ódio, ou a ternura,
E na arte, se vai conhecendo aos poucos,
Quem ferve, em muita, ou pouca gordura.

O alimento necessita de paparicos,
Festinhas na cabeça, do alho francês,
Beijinhos, para evitar os salpicos,
Um "I LOVE YOU", de molho inglês.

Cozinhar, é como doar um coração,
Envolvido, num potente vinagrete,
Pisar o bicho, que está entre o feijão,
E a pedra, para não lascar o dente.

Para tal, não importa ser míope,
Basta apenas, uma pitada de alma,
Ter sempre à mão, um frasco de ketchup,
E a mostrada, que é tão boa e acalma. 
 *
Cristina Ivens-23-11-2016






quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Factos

Deixei-te um bilhete na estante,
Com o intuito, que o fosses ler,
Mas para ti, nada é importante,
Volto agora, novamente a escrever.

Escrevo, para ver se me entendes,
Já que meus lábios, não sabes ler,
Mesmo assim, não me compreendes,
Então meus beijos, não podes ter.

Fiz as malas, com os teus pertences,
Vai na paz do teu senhor....
Pois a mim , não me convences,
Com as tuas promessas de amor.

Não mostres os teu olhos de mágoa,
Que eu continuo, a dizer que não,
Vai dar banho ao cão,
E lava-te na mesma água.

Ah! outra coisa...
À noite, não quero serenatas,
Cantas bem, mas não me alegras,
Com tuas musicas, não me alvejas,
Só me acordas as baratas.


Cristina Maria Ivens







segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Quebranto

Abraçando-me, com elegância e jeito,
Ele se desfaz em carinhos e ternura,
Me encanta, com toda a sua bravura,
Desfaz-me contra o seu peito.

A sua fragrância, me deixa estonteante,
Nos seus braços, eu quero adormecer,
E no medo de poder vir a morrer,
Eu adormeço num breve instante.

Depois, nunca mais quero acordar,
Para sempre, nos braços dele quero ficar,
Num sono, quase paralisante.

Mas quando acordo, meus olhos são de espanto,
Desesperados, como de quebranto,
Oh! eu sou só sua amante.

Cristina Maria Ivens-14/11/2016






segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A Amendoeira

As folhas estavam caídas,
Como se as árvores estivessem a morrer,
No chão, sinais de lágrimas escorridas,
Embora não estivesse a chover.

Fui devagar, muito devagarinho,
Como quem não quer a coisa,
Tal e qual como um passarinho,
Que no ramo da árvore poisa.

Senti um ligeiro abanão,
Parecia o vento a sacudir-me,
Era uma árvore a dizer-me que não,
Que não queria, sequer sentir-me.

Então, dei um saltinho de pardal,
E voei até outra primavera,
Atravessei todo aquele temporal,
Avistei alguém à minha espera.

A tarde estava soalheira,
Do alto de um raminho,
Vi uma linda amendoeira,
Bem no meio do caminho.
.
Como se ela me chamasse,
Embora não visse ninguém,
Pediu-me que eu poisasse,
Queria sentir o peso de alguém.

Cristina Maria Ivens-7-11-2016