quinta-feira, 31 de março de 2016

Virtudes

Virtudes
Aprendi com mestria
a deixar-me cortar
e voltar sempre inteira
com a alma no lugar.
Duas grandes virtudes
fixaram.-se com a idade
aprendi na juventude
educação e humildade.
Esta forma de estar
foi de quem me educou
vem do verbo amar
da minha avó e do meu avô.
Aprendi bem a lição
nunca me dei mal
a humildade está no coração
a educação tal e qual.
Estou bastante agradecida
com o que me foi transmitido
nesta bela forma de vida
têm sempre um grande amigo.
Cristina ivens Duarte

quarta-feira, 30 de março de 2016

O espírito do amor


O espírito do amor
Este vulto que me assombra e fecha os olhos
faz-me abraçar-te e cair em desejos
docemente encosto o meu peito contra o teu
é o meu espírito a cobrir-te de beijos.
És a ninfa, o nenúfar, o meu cúpido
que aqueces e aceleras o meu desejo
só tenho em mim a vontade de estar despido
com a saudade em meu corpo, o teu revejo.
Pairam no ar duas almas seminuas
consumidas pelas chamas do prazer
labaredas e vultos de carnes cruas
neste fogo nenhum de nós há-de morrer.
Prometo que te sigo para sempre
e guardarei o nosso amor no coração
perdoa-me por eu ter morrido de repente
sem me despedir , nem sequer te ter dado a mão.
Cristina Ivens Duarte

terça-feira, 29 de março de 2016

Amor encarnado

Amo-te à velocidade do som,
 só para ir ter contigo, meu amado,
 desconhecia este meu dom, 
de tornar o nosso amor encarnado.

Espera por mim , tenho imensa dor,
 semeei papoílas para não me perder,
 sinto tanta saudade de ti, meu amor,
 que até as flores começam a correr.

Embriagada com a gravidade,
começo a sorrir sem parar,
sinto no corpo uma vontade,  
de pular e começar a voar.

 Mas tenho-te a ti ,
 no cume de um monte,
 à espera de mim,
 num pulo te encontro.

Cristina Ivens Duarte


segunda-feira, 28 de março de 2016

Introspecção

Introspecção
Fecho os olhos em momentos líricos
escritos a carvão numa antiga sebenta
guardados na mente como discos rígidos
saboreio o meu corpo, como se fosse água benta.
Analiso cada gota, cada glóbulo vermelho
a minha meninice a ficar para trás
revejo no meu plasma, um grande espelho
as perdas de sangue, a amnésia que faz.
Esta mania da introspecção
dá-me uma vontade de folhear o passado
que às vezes deixo cair o ego no chão
como se o meu diário fosse assim tão pesado.
Recordo a sorrir, entre videiras e espinhos
todos os labirintos das minhas entranhas
sei de cor como um escanção de vinhos
todas as minhas artes, manias e manhas.
Cristina Ivens Duarte

domingo, 27 de março de 2016

Comovente

A tristeza de um olhar me comove
se se tratar de uma criança
dentro da minha alma chove
enquanto uns enchem a pança.

Eu só queria mudar o mundo
o lugar dos pequeninos
limpar o chão imundo
e tratar dos meus meninos.

Encostar à parede quem rouba
o futuro da nossa geração
que nem a inocência poupam
e as deixam com uma côdea na mão.

As crianças fazem-me chorar
quando a fome lhes comprime os olhos
estando no governo tudo a roubar
são parasitas, corruptos aos molhos.

Eu injectava uma dose que fosse letal
a todos os ladrões de sonhos infantís
construía um cemitério em Portugal
e ficava o meu coração mais feliz.

Cristina Ivens Duarte






sábado, 26 de março de 2016

Desenfreados

Partilhava este momento contigo
eternamente sem me cansar
mas o amor cantou-me ao ouvido
que eu tinha de te beijar.

Desorientei-me com o murmúrio
perdi-me na musica que tocava
como um colapso de álcool puro
beijei quem tanto eu amava.

O momento desconcertou-se
ficando a aguarela a meio termo
sem cor a pintura esqueceu-se
ficando na tela um esboço enfermo.

Mas no ar ficamos nós assolapados
sós com as tintas para esborratar
na pintura ficaram os pincéis adiados
nesta loucura desenfreada de amar.

Cristina Ivens Duarte



sexta-feira, 25 de março de 2016

Vazio


Este sentir que me deixa confuso,
 uns arrepios de doença sem nome, 
fazem de mim um ser obtuso, 
que não é adjéctivo nem pronome.

 De que será então do que padeço, 
que me atinge o corpo todo, 
do mundo inteiro eu me esqueço
 e me afundo lentamente no lodo. 

Aonde me agarro pergunto eu, 
se só vejo pedidos de socorro,
 já nem sei qual destes corpos é o meu,
só tenho a certeza que neste eu morro. 
















Cristina Ivens Duarte

Âncora

Ancoraste em mim como um paquete
sentia-me à deriva, sem vela, nem remo
na minha baía caíste como um foguete
e vi que o céu não era azul, era amarelo.

És a ancora do nosso amor
a maruja que encanta o meu cais
dei mil voltas em teu redor
e dava outras mil e muitas mais.

Atracaste na perfeição
foste feita para o meu corpo
no teu leme encosto a mão
e deixo o mar leve como morto.

Cristina Ivens Duarte


domingo, 20 de março de 2016

O milagre

Confinada ao meu humilde quarto escuro
desde os tempos em que eu era uma criança
de minha Mãe herdei uma tragédia
que a cegueira me deixou como herança.

Ao seu colo minha Mãe sempre dizia
minha filha nunca te deixes esmorecer
abre as janelas do teu quarto noite e dia
que a qualquer momento um milagre tu vais ver.

Guardei em mim estas palavras de esperança
do tamanho do sol que só a minha alma sabe
nos meus olhos ainda mora aquela criança
que no coração toda a fé do mundo cabe.

Um certo dia senti-me fragilizada
e senti a minha esperança a fugir
a minha Mãe como um anjo da guarda
me encaminhou ás janelas para sorrir.

Estendi as mãos com o intuito de as tactear
Jesus entrou e gritou "ETERNIDADE"
foi a esperança que me ajudou a levantar
e nos meus olhos aconteceu um milagre.

Cristina Ivens Duarte






sexta-feira, 18 de março de 2016

Murmúrios liláses

Ofereço aos meus olhos murmúrios liláses
de colheitas de amor e pensamentos desfolhados
confinados só para mim, são leves como aves
que o cheiro a jasmim, deixa os pássaros pasmados.

Legítimos segredos, sem malícia ou dor
contornam o meu corpo docemente baunilhado
que os ventos marítimos carregados de amor
aguardavam por mim neste jardim encantado.

Confinada ao tempo, com tempo sem fim
me perco perdidamente em murmúrios liláses
abastecida de encanto que se decifram para mim
como grandes amantes em beijos fugazes.

Com metáforas e hipérboles, desperto a minha libido
numa mistura de prazer, com o encanto do momento
sem querer com audácia, desnudei o meu corpo frígido
e decido apaixonar-me, loucamente pelo tempo.

Cristina Ivens Duarte









quarta-feira, 16 de março de 2016

Amor vertiginoso

Sinto que vou morrer nos teus braços
em teu peito com sindroma vertiginoso
abracei-me e apertei o teu regaço
para alcançar e beijar o teu pescoço.

Mas a náusea e a tontura me consumiam
que o meu medo de partir rodopiava
sentia que os pés do nosso mundo fugia
em teu peito restos de amor vomitava.

Amparaste-me contra a parede flutuante
e percebeste o meu estado de agonia
agonizado com o sofrimento da tua amante
sabias que eu nesse dia morria.

Pedias que tudo deixasse de centrifugar
e deixar em mim rastos de amaciador
para me estenderes no chão a secar
e te lembrares de mim com muito amor.

Cristina Ivens Duarte



terça-feira, 15 de março de 2016

Há dias

Há dias que o meu olhar só pede flores
mas, chove tanto lá dentro que nem a poesia
cabe em nenhum lugar.
As palavras ficam presas nas minhas pálpebras
e na sua vez, caiem lágrimas de vazio, que
num só trago as engulo, como se de um
bom cálice de vinho se tratasse.
Mas não, está toda arruinada a inspiração,
só vem à mente sinónimos de solidão,
tristeza e desamparo..
Só queria que o corpo se ergue-se
e desse um grito de aleluia aonde a
minha poesia fosse de amor e calmaria.
Sei que há nuvens passageiras que nos cobrem,
como persianas e nos deixam ás escuras
por vários dias, sentindo-nos nas mais
profundas tristezas, capazes de nos transformar
em seres inúteis e incapazes.
Mas é assim, há dias.

Cristina Ivens Duarte









segunda-feira, 14 de março de 2016

Rescaldo

Acredito plenamente na linguagem do amor
quando me envolves no teu corpo desnudado
sinto a meu lado uma fonte de calor
que me deixa em brasa depois de te ter amado.

Me envolvi no teu belo e doce manto
e decifrei cada código da tua pele
tocas-te em em mim e tal não foi o meu espanto
que não eras tu, era um favo de mel.

Aceleras-te o passo da nossa dança
senti que por momentos perdi o tino
no teu corpo me senti uma criança
que deixou para trás a inocência de um menino.

Assim ficamos em rescaldo, extasiados
com a viagem que nos esquecemos de comer
naquela cama sorvemos como gelados
todo o suco que um doce pode ter.

Cristina Ivens Duarte



É triste mas, é verdade


Na tristeza cambaleia o meu olhar
e pergunto à brisa do mar aonde errei
pois se eu sempre gostei de amar
porque me sinto que me afundei?

Estagnei no tempo e nas estações
tanto faz ser verão, primavera ou outono
 dentro de mim é sempre inverno
o amor pela vida é insonso e morno.

Acordo com vontade de voltar a dormir
não quero sonhar, só quero acontecer
levantar-me é algo que não me faz sorrir
porque me falta a coragem de falar em morrer?

Cristina Ivens Duarte


sábado, 12 de março de 2016

Quando se ama

Quando se ama a gente sente
há pólen de amor pelo ar
a pele espirra de sentimento
que deixa o nosso corpo pingar.

Só por amor se adoece
de ver a amada(o) doente
é enfermidade que acontece
é vírus no sangue da gente.

Ama-se a dormir ou acordado
com remela ou cheiro a suor
na troca de beijos tão desejados
fica-se a conhecer o corpo de cor.

Quando se ama a gente sente
o cheirinho a café a chegar à cama
às sete da manhã o amor se põe a pé
para alimentar a sua dama.

Cristina Ivens Duarte





sexta-feira, 11 de março de 2016

Beija-me amor, não tardes

Beija-me amor, não tardes
o meu amor é mel, ele escorre
resta apenas um pingo que arde
que se apaga, se não me mordes.

Fiz colmeias de açúcar para nós
e adociquei a nossa cama
grito de prazer em alta voz
beija a mulher que te ama.

O meu amor é doce, é pegajoso
cola no corpo, invade os lençóis
é dos açúcares o mais gostoso
no glorioso mundo do mortais.

Beija-me amor, não tardes
chove mel na minha boca
vem e canta para mim
"Esta mulher é louca".

Cristina Ivens Duarte


terça-feira, 8 de março de 2016

"Preta Mulher"

Porque choras minha preta
hoje não é um dia qualquer
é brilho de um cometa
é o dia da mulher.
Enterra a dor do passado
a sete chaves numa gaveta
hoje é um dia perfumado
para toda alma, branca ou preta.
Lembra-te que foi a mulher
que conquistou o paraíso
e nem por um minuto sequer
se esquece do teu sorriso.
És pássaro que levantou
e mostrou a sua bravura
contigo o tempo não aguentou
e se tornou em doçura.
Não chores minha preta
não te deixes alagar
chora apenas quando uma estrela
no céu deixar de brilhar.
Mas hoje não é esse dia
nem é um dia qualquer
transforma as lágrimas em alegria
é o teu dia, "Preta Mulher."

Cristina Ivens Duarte




domingo, 6 de março de 2016

A vida telefonou-me

Na quimera de um sonho, deixei-me levar
numa estrada sem rumo decidi viver
o céu estremeceu com um toque de telefone
e eu acordei, resolvi atender.

Com olhos ensonados, perguntei quem era
a voz recordou-me um amor do passado
o seu nome era"Vida", esquecido por ela
deixei o telefone, por uns segundos pendurado.

A Vida lamentou por me ter traído
ela sempre foi o meu grande amor
marquei com ela um encontro sofrido
bem junto à fonte do miradouro.

Ela tinha mudado, estava bastante diferente
tinha a lua bem cheia e o céu estrelava
abracei-me a ela, feliz e contente
junto à fonte disse à Vida, que eu a amava.

Cristina Ivens Duarte






sábado, 5 de março de 2016

A estrada da poesia

A estrada da poesia

Na imensidão e calmaria da paisagem
aonde a vida pára para se ouvir soar
suspendemos o caminhar naquele encanto
junto à estrada aonde a poesia tem lugar.

Nuvens tímidas e chilreares discretos
harmoniosamente combinam com o momento
discretamente aquele lugar tornou-se o tal
que o teu corpo adormeceu de sentimento.

Já o céu se ajoelhava por descanso
e a poesia se espalhava no chão
o vento amainava fresco e manso
que a minha prosa teimava em dizer não.

Nem o eco me fazia desistir
parecia Deus que me estava a cantar
para que eu não me deixasse dormir
e ficar a poesia a voar.

Cristina Ivens Duarte















sexta-feira, 4 de março de 2016

Felicidade por um dia

Embora às vezes eu não tenha a certeza
de que a felicidade um dia acontece
há lugares em que não mora a tristeza
momentos que a gente não esquece.

É um vale aonde costumo ir respirar
e cheirar aquele pozinho que faz rir
que me esqueço por um dia de chorar
e agradeço à felicidade por sorrir.

Afinal a felicidade sempre existe
em lugares aonde o cheiro faz  magia
sobre um rosto, um sorriso não resiste
a um sonho e cheirinho a fantasia.

Para lá caminho e me esqueço de voltar
aquele pozinho que me droga e apaga
não importa se por um dia eu não acordar
na felicidade que me inunda e afoga.

Cristina Ivens Duarte

quinta-feira, 3 de março de 2016

Áureas

Com as minhas primaveras os meus cinco sentidos
ainda não me inibem de admirar determinadas luzes,
que na paz do silêncio me fazem deslumbrar o belo e a 
harmonia das cores, que se espalham como sombras
nas íris dos meus olhos, ansiosos por algo diferente
e estupidamente encantador.
Algo angélico em que eu lhe poria asas, para voar aos céus
e desmistificar toda a controvérsia, sobre a existência
de anjos ou não.
Perturbadoras e exuberantes seriam as nuvens, voadas
por criaturas com áureas que as tornam únicas, contornos
tão perfeitos que fazem babar os cantos das nossas bocas.
Mas belo seria também, se os nossos interiores fossem igualmente
assim, como se um diáfano manto cobrisse os nossos corpos
e as duas faces ficariam completamente expostas.
Seriamos almas descobertas e livres, isentas da dúvida
se o nosso coração também é lindo ou não.

Cristina Ivens Duarte



  

quarta-feira, 2 de março de 2016

Palavras para quê

Palavras para quê, se eu quero é sentir
me sinto em jejum se não há sentimento
é o toque que embala e deixa dormir
é fome que fala e dá alimento.

É ceia empratada em travessa de lençol
mistura de ternura com tempero a prazer
é corpo que sua com tanto desejo
um cheiro a loucura dá vontade de comer.

Palavras para quê, se eu quero é amor
um beijo, um carinho e um abraço profundo
não cansa, não magoa, nem causa dor
a toda hora, ao minuto e ao segundo.

Cristina Ivens Duarte.






terça-feira, 1 de março de 2016

Utopia à meia noite

À meia noite o tempo pára
banho-me em leite para uma utopia
a pele amacia enquanto te espero
sou a tua grega em fantasia.

A noite passa e o leite esfria
fecho as cortinas e acendo as velas
sinto que o ar não tem magia
espalho na cama rosas amarelas.

Oiço um trote vindo do além
seminua corro até à porta
vejo uma sombra montada a cavalo
quando a minha alma já estava morta.

Um mensageiro trazia uma carta
um coração desenhado a cavalgar
senti um coice do meu cavaleiro
que partiu, em vez de me amar.

Agora sonho incessantemente
que estás entre gregos e troianos
numa arena a lutares por mim
até ao fim dos teus anos.

Cristina Ivens Duarte